sábado, 4 de julho de 2009

Química de materiais

A característica intrinsecamente interdisciplinar dos temas de Ciência de Materiais induziu a criação da Divisão de Química de Materiais (DQM) para congregar os químicos orgânicos, inorgânicos, físico-químicos, físicos, engenheiros de materiais, dentre os profissionais ligados aos departamentos universitários, institutos de pesquisas e departamentos de pesquisa e desenvolvimento de indústrias. Assim, muitos membros das outras divisões da Sociedade Brasileira de Química (SBQ) associaram-se a esta Divisão formando o foro de divulgação e discussão das descobertas sobre Materiais.
Os pesquisadores que hoje se reunem na divisão atuam nas seguintes áreas: polímeros dielétricos, estruturais ou condutores, materiais cerâmicos e vidros, materiais fotônicos, filmes finos, blendas e compósitos, fibras, elastômeros e borracha natural, dentre outros assuntos, abordando sua preparação, caracterização, propriedades, simulação, etc.. Desde a criação, a Divisão de Química de Materiais tem mantido intensa programação na Reunião Anual da Sociedade organizando a apresentação de contribuições científicas na forma de comunicações orais e de posters, mini-conferências e conferências plenárias convidadas, oferecendo cursos sobre preparação, técnicas instrumentais de caracterização e metrologia química aplicada aos materiais.
Após quatro reuniões anuais, em 1998, foi traçado o Perfil da Química dos Materiais no Brasil através das reuniões da Divisão buscando-se identificar os membros da divisão, as áreas de atuação contempladas, a participação dos alunos de pós-graduação e de iniciação científica, assim como as técnicas instrumentais mais usadas no desenvolvimento das pesquisas.
A área de Química de Materiais é muito dinâmica e tem uma produção científica elevada e rapidamente crescente, com boa inserção internacional. Ela tem uma boa capacidade de atração de estudantes, formando-se uma comunidade jovem que requer recursos substanciais para poder contribuir científica e tecnologicamente.
A Química de Materiais tratando da síntese, estrutura, propriedades e aplicações dos materiais, sobretudo daqueles associados com o avanço de diferentes tecnologias, tem tido contínuo e enorme sucesso, porque coloca em destaque o conhecimento, o saber e o fazer químicos, como no caso dos polímeros sintéticos e dos materiais inorgânicos, obtidos por rotas eminentemente químicas. Esses aspectos explicitam a Química de Materiais como uma das principais fronteiras da Química e, especialmente, como uma atividade relevante, que produz vantagens diferenciais e competitivas a favor do desenvolvimento crescente de uma indústria nacional, de intensa base tecnológica.
As abordagens dos estudos de Química de Materiais são predominantemente experimentais, e as associações a modelos teóricos e a trabalhos de modelagem ou simulação são pouco freqüentes. Um dos principais saltos de qualidade nesta área poderá ocorrer exatamente em decorrência de uma associação mais forte, entre pesquisadores experimentais e teóricos ou computacionais.
Uma importante limitação da atividade na Química de Materiais é a pouca frequência de menção, por parte dos pesquisadores, à literatura de patentes. Isto revela uma situação preocupante, com o risco de criar dois tipos de conseqüências negativas:
i) A falta de consideração das patentes registradas nos bancos de dados internacionais prejudica o domínio do estado da arte por parte dos pesquisadores, porque os documentos de patentes contêm informação científica que, com grande frequência, não chega à literatura aberta. Estimativas a respeito indicam que a metade das descobertas científicas relatadas em patentes jamais é objeto de publicação.
ii) Descobertas patenteáveis são um importante elemento do processo de inovação, e as patentes podem contribuir muito para a interação entre pesquisadores de universidades e empresas. De fato, em muitos casos a existência de patente é um elemento essencial nas discussões e acordos entre institutições acadêmicas e empresas.
Outro aspecto diz respeito à carência de aprofundamento que se observa quando do uso da maioria das técnicas de caracterização, sobretudo as espectroscópicas. Não temos dúvida de que a Química de Materiais está fortemente alicerçada nos conhecimentos da Físico-Química moderna. Assim, sendo Químicos e estudando Materiais devemos utilizar todo o arcabouço teórico e experimental que a Química disponibiliza no seu estado-da-arte, sob pena de caminharmos na direção de uma perda de identidade.

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